terça-feira, 22 de julho de 2014

Constantemente

E você a amou? - ela perguntou apagando o cigarro numa lata vazia de Coca Cola.
Por um momento sim. - ele respondeu secamente.
Mais do que a mim?
Nem mais nem menos. Amei diferente.

Ela se ajeitou na cama. Estava de meias mas sentia muito frio.

Diferente como? - insistiu.
Amei sem medo.

Você tem medo de mim?
Tenho medo de te perder. Quanto a ela...nunca tive receio algum.

Ele tomou um gole do café preto já gelado que esquecera ao alcance das mãos.

Você me traiu...- ela disse, ameaçando um choro.
Traí a nós dois... - ele retrucou evasivo.

Não posso suportar isso.

Eu sei que não.

Você me jurou amor eterno...

Ele a encarou por um momento numa tentativa frustrada de memorizar sua feição. O nariz fino tão cheio de rinite que não o deixou dormir por noites. Os olhos separados numa harmonia particular que gerava estranheza e charme. E a boca bem desenhada que ele tentou inúmeras vezes reproduzir num papel.

Eu te amo eternamente... - respondeu

mas não te amo constantemente.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ana


Mais ou menos

Mas não menos que isso...


Ela canta, ela canta

É puro improviso


E nessa de cantar

de leve faz um passo

Devagar...


Pra não cair, pra não cair

Só para voar

Devagar


(2x)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Negócios

- "E então?" - Perguntou ela. - "Você não vem?"
- "Me dê mais um tempo, ok? Já estou quase pronto."

Ela apagou o cigarro na escrivaninha ao lado, bufando impaciente.

-"Você sempre faz isso", resmungou baixo.
- "Isso o que?", ele perguntou sem entusiasmo.
-"Isso...isso. Me deixar esperando. Me efria. Me broxa. Você é um merda."
- "Mas você me ama, baby."
- "Amor? Eu nunca falei em amor. Você sempre faz isso também. Isiste nessa porcaria de amor"

Ele riu sem graça.

-"Está rindo do que? Qual é a sua?"
-"Não é nada. É só que..."
- "Lá vem você...Desembucha."
-"Diz que me ama?"

Ficou muda por um instante.

-"Você sabe que sim. Eu te amo, querido."
-"Obrigado. Quanto é que lhe devo?"
-"Mas nós ainda não...quer dizer..você ainda não....Eu ainda não fiz meu trabalho..."
-"Esqueça, baby. Hoje eu lhe contratei apenas para me amar."

Silêncio.

-"220"

Ele depositou a quantia na escrivaninha e voltou para o banheiro.

Ela levantou-se séria, e acendeu outro cigarro.
Virou-se para ele antes de fechar a porta com força:
-"Você sempre faz isso. Sempre..."


Para ler ouvindo 3 na Massa - "Lágrimas Pretas" (agora no playlist ao lado)

terça-feira, 11 de maio de 2010

À parte


Uma parte de mim despertou hoje cheia de sensibilidade.

Sentiu o vento cortar a face, e cada fio de cabelo se desarrumar delicadamente.

Essa parte pisou no chão com força, marcando pegadas. Sorriu discretamente antes de gargalhar com gosto.

Ela cantarolou Regina Spektor pra si, dançou na frente do espelho, e lhe comprou um chocolate.

Ela voltou pra casa debaixo de chuva, mas sem apressar o passo.
Permitiu que cada gota gelada escorresse pelo seu rosto, quebrando aos poucos o medo de chuva que cultivava desde a infância.

Chegou em casa ensopada. Ensopada e com frio.

Tirou os sapatos e calçou meias secas sem casar os pares: rosa a do pé direito, azul no esquerdo.

Sentou-se ao lado da minha parte que ficou, e, simpática, lhe ofereceu um pedaço de chocolate.

A parte sorriu disfarçadamente e aceitou, dizendo baixinho: - "Adoro quando sua nobre docilidade consegue afetar nossa vil amargura".
Para ler ouvindo "Us" - Regina Spektor

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ensaio sobre o amor


O amor tem um gosto estranho.
Exótico e estranho.
Te causa agonia e aperto no peito.
Te faz suspirar sozinho e sorrir a toa.

Às vezes faz chorar também...

Mas não chorar por amor é como ouvir The Smiths e não balançar os pés ao ritmo da canção.

Meio sem nexo. Meio sem graça.

Amar é esquecer-se do tempo. É ver o dia correr num segundo. É ver a semana arrastar-se num século enquanto aguarda o tão esperado encontro de sabádo.
É dormir cedo pra chegar logo a hora do bom dia. É passar o batom exclusivamente para ser tirado em um beijo quente de 'olá' antes mesmo de ser visto.
É provar novos gostos, novas essências. Misturar, resgatar, inovar e fazer de tudo uma novidade.
Amor todo mundo já sentiu...mas eu estou falando de algo mais profundo...

Quando se descobre o amor?

Às vezes ele está escondido em um sorriso simples, em um balançar de braços. Em um perfume...
Perfumes são cheios de amores, e o amor em si é absolutamente perfumado.
Nada remonta uma lembrança mais nítida do que um cheiro exalado no ar.
Do perfume resgata-se a forma, a cor, o tom, a pele.
Do perfume se refaz a forma idêntica na mente de quem amou...

'Amou'?

Uma amiga minha diz que 'amar' é um verbo que não se conjuga no passado...

Então 'amando' seria a forma correta.
Porque quando penso no meu futuro faço dele um futuro mais que perfeito.

E hoje, eu admito, conjugo meu verbo no presente: 'Eu amo'.




segunda-feira, 8 de março de 2010

Um belo dia


Amanheceu um dia bonito.
Levantou-se num salto, e prostrou-se a frente do espelho. Ajeitou os cabelos com as mãos mesmo sabendo que iria encharcá-los no banho logo a seguir.

Pura vaidade.

Lá fora continuava belo.
Entrou no banho quente que lhe avermelhou a face.

“Pelando!”

Saiu dele com pressa não por atraso, mas por ansiedade.
Ansiosa....
Estava extremamente e estranhamente ansiosa.

Não fazia tempo que sentira aquilo pela ultima vez, ela confessou a si. Mas agora lhe parecia especialmente novo.

È do tipo de coisa que o coração não acostuma e não cansa nunca de sentir.
È do tipo de coisa que aquece e arrepia simultaneamente, fazendo os pêlos da nuca se levantarem magicamente num entusiasmo juvenil e sensual.

Desceu as escadas num tropeço, e conferiu a hora: “Elegantemente atrasada”.
Correu.

Agora que estava em cima de seu horário, não queria mais perder tempo algum.

Perder?

Nenhum tempo fora perdido.
Valeu a pena cada segundo,e estava prestes a comprovar isso.

Lá fora, um dia lindo.
No local marcado ele a esperava.
Ansioso?
Talvez.
Ela, certamente.
Abraçou-o disfarçando e comentou algo sem sentido, desconversando.
Tímida. Muito tímida.

“E então?”, ele perguntou, tocando no devido assunto.
“Eu já disse....”, respondeu ela evasiva.
“Quero ouvi-la dizer pessoalmente”, insistiu ele com um sorriso instigante.
Ela parou.
Pensou.
Encarou-o.
“Aceita namorar comigo?”, perguntou sem graça.
“Aceitei faz tempo”, respondeu ele sem pensar.
Abriram o guarda chuva, como todas as outras pessoas.
Há dois dias um vento frio espalhava pela cidade uma garoa fina e gelada, daquelas que não se sabe de onde vem, e muito menos como se protege.
Ele a envolveu num beijo lento, e passou a mão no seu rosto.
O tempo continuava exatamente como amanheceu: absolutamente fechado.
Para ela, porém, fazia um lindo dia.

sábado, 14 de novembro de 2009

Meu desabafo...

É aqui, fuçando blogs que não deveria, de pessoas que não deveria que me encorajo a atualizar o meu.

"Tudo tem seu tempo..."

Apego-me a isso pra esperar...
e esperar...

Muitas vezes, e hoje mesmo, desejei a felicidade alheia pra mim.
Me perguntei de vez em quando se eu também não não tenho o direito de ser "a bola da vez".

Se isso tudo vai se ajeitar.

Se outros sorrisos farão tanto sentido.

Se outras baboseiras tarde da noite me farão segurar o sono até as 2 da madrugada.

se histórias tão empolgantes, conversas tão sinceras, trocas de elogios tão criativas (rs), implicância...se tudo isso vai vir de novo, na hora certa, pra dessa vez ser meu.
Só meu.

Pergunto-me se vai demorar muito pra não precisar mais guardar só pra mim isso tudo que tenho vontade de declarar feliz aos quatro ventos, e que muita gente diz apenas para eu "esquecer", como se sentimentos fossem consultas médicas, que você esquece e pode simplesmente remarcar na hora que achar necessário.

Eu não sei.

Mas hoje eu li um post...

Li um post que falava de tempo, de espera.

Falava de superação e de distância.

Falava de amor.

E esse post me fez sentir dó.

Mas não aquela dó medíocre. Dó por um dia eu ter desejado o seu lugar.
Dó por achar que todos os problemas do mundo estão sobre minhas costas, e que eu tenho mesmo é que pensar mais em mim.

Talvez eu só tenha que aprender algo que ela já aprendeu, depois de passar por coisas tão dificeis quanto as minhas.

Talvez eu só não esteja madura o suficiente para encarar as dificuldades camufladas na felicidade quase plena de um sentimento correspondido.

Eu não quero mal a ninguém. Só quero bem a mim.



E continuo apaixonada.


Perdidamente apaixonada.


Mas isso.....









Isso não vem ao caso.